do neo-canibalismo ao tretoterismo, o caótico corpus do movimento homeostético, suas tricas, sequelas, etc.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

C. & E. (gesto)



Une science humaine ne peut être que celle
du sens e du contressens.

Um paradoxo resolve-se quando situamos as duas proposições
antagónicas num sistema de referências enriquecido
onde aparece a sua complementaridade lógica.


(Morin)

Na esfera estética, o impulso mimético afecta antes a mediação,
o conceito, o não-presente. O elemento conceptual, enquanto entremeado, é inalienável na linguagem e também em toda a arte,
e transforma-se assim em algo de qualitativamente outro
em relação aos conceitos enquanto elementos distintivos
de objectos empiricos. A introdução de conceitos não é identica à conceptualidade da arte; a arte não é conceito nem intuição
– eis porque protesta contra a separação.
A arte é intuição de algo não-intuitivo,
é semelhante ao conceito sem conceito.
Nos conceitos, porém, liberta o seu estrato mimético,
inconceptual.

(Adorno)



É a conceptualidade e a inconceptualidade do gesto assim como a consciência ingénua/culta do mesmo, que pode servir como aposta. A exploração do gesto tem sido feita maioritáriamente de uma forma esvaziada de criticismo, ocultando a «conceptualidade» quer do gesto quer do ornamento.

As poucas tentativas consistentes nesse sentido foram levadas a cabo por Henri Michaux –

«ce sale flot noir, qui se vautre, demolissant la page et son horizon, qu’il travesse aveuglment, insupportablement, m’oblige à intervenir.»

«Dans l’ecriture, certains jambages s’elançaient démésurés, faussant le mot, sortant du mot, leur graphie emportée à part par leur èlan propre, et aussi par l’appel pressant à la represantation et à la figuration de ce dont il etait question et dont, maldroites et insuffisantes, perçaient les soudaines, rapides tentations, les ébauches trot tôt interrompues».



Se a presença do Corpo no Gesto nunca foi negada, também ninguém como Michaux teve a necessidade da apresentar como «antropomorfica», «fálica». A ocultação desta evidência foi saudada como progresso, como emancipação. Enquanto isto se passa Michaux é claro:

«Peinture par oubli de soi, de ce qu’on voit e qu’on pourrait voir. Peinture de ce qu’on sait, expression de sa place d’ans le monde.»

Insiste também nos mandalas e na desagregação do ego em alternativa ao seu massacre, como em boa parte nos artistas ditos expressionistas abstractos:

«Le massacre peremptoire, ou delicieux de l’ego et de ces unités construtives, c’est du passé».

A aceitação experimental do mundo, não uma luta infernal contra ele.

Toda a história de arte está imersa em gestos, em ideias-gestos, em programas-gestos, em conceitos-gestos. Não é o gesto a expressão no actual dos inevitáveis equivocos «miméticos»?

Substituição continua de gestos, substituição mimética.

A conceptualização é a convenção, o òbvio, o dizivel.

O inconceptualizável é o que fica.

A realização artistica toca as arestas das regras, regras que se querem não-defenitivas, mas desprobabilizadoras. Regras do não-determinante. Para um improvavel Possivel.

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