do neo-canibalismo ao tretoterismo, o caótico corpus do movimento homeostético, suas tricas, sequelas, etc.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O ORGÃO HUMANO













O Orgão
não é um orgão nem um organismo
mas um porco reclinado
sobre a madame Pompadour.
O Orgão Humano entra acompanhado do Homem-Torrada
mas o Homem-Torrada está torrado demais:
o Homem-Torrada é chinês
mas devia ser preto
porque nós somos racistas
e ele enraba-nos.
O Homem-Torrada abre o fecho-eclair
e fecha o fecho-eclair. Depois bate com a porta
e exige uma porrada de dólares.
O Homem-Barbatana tem um cofre
onde guarda as cartas do Homem-Torrada.
Ás vezes canta baladas
rodeado de fadas
que tocam concertina.
Lá em cima está o tiroliroliro.
Cá em baixo está o tiroliroló.
O Orgão Humano agarra na garrafa
e bebe o mijo dos três.
Estamos todos divididos
entre nós mesmos e ninguém.
O Homem-Tomada atrapalha-se
e liga a torradeira errada
onde está peixo frito
e o inimigo capitalista:
o Tio Patinhas.
O Homem-Candelabro fica embaraçado
porque já era candelabro antes de Bach compor
as Variações Goldberg
que mais tarde fizeram o Homem-Martelo
ficar agarrado à heroína.
Entra finalmente em cena o
Homem-Parafuso ( que por sinal
não tem orgão mas
a falta de qualquer orgão),
sente-se nele um certo desagrado.
Senta-se na poltrona e liga a televisão
e não se peida, mas peidam-se em coro
as vacas que o acompanham.
São vacas Teutónicas
boas para dobrada à moda do Porto.
Elas têm tatuagens nazis
e namorados com bigodes
para provar que são viris.
A rima poética já foi um assunto sério ¾ há até quem ache
que as clepsidras deviam ser usadas pelas mulheres a dias
e vice-versa
e
virgula também
que o tempo apaga o pó
e transforma-o inevitávelmente em gente
o que é como quem diz
as peças transformam-se em vidas
e os dias em anos
e as sombras em carne e osso.
Basta.
Havia mescal
como no Under The Vulcanoe
mas era de má qualidade
falsificado no Barreiro
por judeus marroquinos.
Ninguém estava quase bêbado
e já há muito tempo
que não tinham a sobriedade por companhia.
O Homem-Parafuso senta-se em cima do piano
e enche o tampo de súor
mas um suor negro
que poderia ser do Homem-Torrada.
¾ Sinto-me só!
Ele mastiga pastilha elástica
e volta a beber mescal
e uma professora de alemão come-o com os olhos.
Os olhos dela devoram-no lentamente e ao piano também
mais tarde vai à casa de banho e constata que
tem lombrigas
(carnívoras?).
Isto é o drama de um homem que tem vinte e três mas poderia ter
quarenta ou cinquenta e tal.
O seu mundo (pensa ele)
é uma autêntica teia de aranha
(ou será um ninho de andorinha?).
Viver é como procurar as letras numa máquina de escrever
desconhecida, é procurar a afinação temperada
que afinal não existe.
Neste momento acendo um cigarro e vejo
que o fumo tem a forma de pequenos porquinhos,
de porquinhos metafísicos que gritam “Papá! Mamã!”
Esses porquinhos são os mealheiros
em que o Orgão Humano depositava todas as esperanças
dos seus e talvez dos nossos
antepassados.
Agora já podemos morrer em paz!

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