do neo-canibalismo ao tretoterismo, o caótico corpus do movimento homeostético, suas tricas, sequelas, etc.

domingo, 12 de agosto de 2007

C. & E. (liberdade)



corrio depois de Eva & Adão,
ergue-se do braço da praia até à curva da baía,
traz-nos por uma commodius vicus de recirculação
de novo a Howth Castelo Earredores


James Joyce

Toda a liberdade depende das suas condições
de formação e de desenvolvimento,e,
uma vez emersa, permanece como liberdade retroagindo
sobre as condições de que é serva.


Morin


LIBERDADE. IGUALDADE. FRATERNIDADE. Este é o programa revolucionário, o único plano de ruptura efectivo: e como ruptura que é, é anti-kitsch. Formas novas, relações novas, comunicação nova. A fraternidade funciona aqui como segredo e conspiração: o objectivo é a tomada do poder, ou a abolição do mesmo. O que une os irmãos é uma ideologia, uma metodologia, uma técnica: «O melhor sentido de técnico que encontramos foi o seguinte: secreto, pessoal» (Almada).

«A tomada de consciência da anterioridade cronológica, ontológica, organizacional, do fraternalismo sobre o paternalismo constitui um progresso que não é únicamente teórico. Traz-nos uma mensagem política. A sagrada família biológica mostra-nos que o príncipio do irmão precede o príncipio da mãe, que precede o príncipio do pai, contrariamente ao paradigma reaccionário que hiertarquiza de modfo dito natural paternidade/maternidade/fraternidade.» (Morin)

Fecha-se um primeiro circulo e nele contido ressurge o fantasma da liberdade. A liberdade é aquela que satisfaz todos os desejos, e por isso é aquela que em si não alimenta nenhum desejo: satisfazer os desejos é transformar o mundo, transformar as linguagens, actuar sobre tudo e todos. Como oferenda. Como presente. Não de um modo repressivo. Dar. Dar-se.

Organizar o mundo a partir do zero: «se há um principio organizador, ele nasce de encontros aleatórios, na copulação da desordem e da ordem, pela e na catástrofe, isto é, na modificação da forma.» A catástrofe tem dois sentidos; um de revogação, de retroacção, de irreversibilidade (embora a retroacção seja um movimento contrariante dentro do sentido do movimento); e um outro, de actualização genésica, revivendo a criação do universo, o seu príncipio-fim.

The fall:
(bababadalgharagharakamminarronnkonnbronntonerronntuonnthunntrovarrhounawnskawnskawntoohoordenthurnuk!). A queda de Adão e de Babel ( e o regresso ao Éden e à condição de culpa feliz do status babélico), a morte do pai (e a sua ressurreição fraterna!).

Tendo em conta o projecto libertário (dar-se!) é forçoso evitar os erros que esse sacrifício possa ter: os erros de sentido e os erros de não-sentido. E convém ser o mais possível consciente do que se exprime. A consciência do que se exprime inclui na expressão as ambiguidades que desenvolve cada um a que se oferece desse um o caminho, desencadeando assim o seu segredo, o pessoal. Poder-se-á chamar catharsis? Será que desencadeia a consciência do próprio corpo? Consciencializar o seu corpo é conscencializar todos os corpos. O enigma de cada é o enigma do Todo, porque as partes são morfológicamente muito semelhantes ao Todo.

Existe aqui uma grande solidariedade e uma grande dessolidariedade. São as àguas do enigmático, do irrevelável, do inefável. A comunicação parece tomar uma forma telepática, invisível, mimética. Chamar-lhe-ei espontaneidade. Ser espontaneo é comunicar, não idealmente mas completamente.

As Utopias dependem apenas do seu uso . Usar é representar, é pôr à prova o conceito. O uso da Utopia é inevitávelmente auto-consciente.

Fraternidade é acção de grupo. O seu objectivo é a morte ou o derrube do Pai, tal como Zeus que escapou a Saturno libertando os seus irmãos. Liberdade é a passagem do estado contestatário, transgressivo, à maturidade, ao Estado Fraterno. É aqui que se podem incluyir os ritos de iniciação ou passagem. A Festa dolorosa. A luta fracticída (que pode incluir ou não a morte de irmãos). A passagem do profano ao sagrado. A morte para uma natureza meramente exterior e o renascimento para um mundo sem dicotomias interior/exterior. O meu corpo (a minha representação) é o Mundo.

A dádiva faz-se na festa, dolorosamente, no confronto corpo a corpo. Na descida ao mais imundo. No reverso do tabú que preversamente leva à regeneração do mesmo tábu.

A festa é a festa da igualdade. Tudo é permitido. Todos são iguais. Nenhum lugar é hierarquizado. O que os une é a circulariedade (e a circulação). O que os mantém é um centro invisível.

Fraternidade é Carnaval. É carne que vale. Cada um se mascara de si mesmo, não do rosto cultural (que repressivamente é o Pai). Depois vem a organização fraterna. O regresso à cultura. A uma cultura diferida feita de boas-intenções.

Representar a liberdade/igualdade/fraternidade é representar na liberdade/igualdade/fraternidade. Irracionalmente e conscientemente. Quer se queira quer não está-se na arena política. Nada é inocente. As boas intenções podem devir paradísiacas ou infernais. Mas mais do que as intenções (o programa ensaiado das vontades) o que conta são os actos.

Rubens, desta perspectiva, é muito mais revolucionário que muitos artisras engagés.

«Connais-je encore la nature? Me connais-je? - plus de mots dans mon ventre. Cris, tambour, danse, danse, danse, danse! Je ne vois même l'heure où, les blancs dèbarquant, je tomberai au néant.
Faim, soif, cris, danse, danse, danse, danse!» (Rimbaud)

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