do neo-canibalismo ao tretoterismo, o caótico corpus do movimento homeostético, suas tricas, sequelas, etc.

domingo, 12 de agosto de 2007

outros primeiros manifestos


Manuel Vieira também produziu alguns textos na ocasião - o primeiro é um manifesto, os seguintes perpétuam o espirito Nemo - atópico, viajante, de visibilidade escapista, amorosa, pitoresca, etc. (a fotografia ao lado é o P. Portugal em 82)





SOBRE O ESFORÇO DE GUERRA HOMEOSTÉTICO


O apocalipse está próximo?

Atrás, nas montanhas em frente, surgem fantásticas névoas amarelas. Luzes.

Deus está furioso com os homens? À tarde vou com a minha vaquinha passear. O cenário é campestre.

Os enigmas polulam, numerados, e sempre potentes. Dançam sarcásticamente.

Vêm aí os extra-terrestres, dizem alguns! Mas o rebanho segue o caminho, nos abismos subterrâneos.

A esfinge é bela serena e terrivel ¾

“Será que me esforço por pensar o suficiente?” , pensa o seu interlocutor (o artista?).

A nova imagética freudiana:
os bons velhos simbolos revelam-nos:
“é elementar, meu caro Watson!”.

E a mística? As ciências saturnianas, as tenebrosas maravolhas, o perfume alquímico sempre impossível de matemáticos Frankensteinianos...

Que nos dizem as belas figuras geométricas?
... deve haver alguma pureza no fundo de tudo isso?...

Thais! As mulheres são raínhas, possuem magníficos castelos (palácios?). O homem espião es conde-se nas suas partes submersas.
Porque não gosto de nada?
é fútil?

O paradoxo é constante e não leva a nada. É um mal da época.


3 homens

a) O homem é um lascivo anão, disforme, e à sua volta tudo é sexo, uma espécie de caos orgíaco, violência e tenebras. Rodeia-o um abismo.
b) O homem é um monge fanático e sadomasoquista. Tudo à sua volta é sexo, droga, fé, extase e mêdo do abismo.




Diário de bordo de Jean Sawarick


meu caro amigo:


Ah! Se saisse à rua, que desilusão! Aqui, pelo menos, os sinos tremem com os abalos da terra e os animais movem-se segundo os seus instintos mais básicos.

Pudera eu apaixonar-me pela imagem da mulher na minha cabeça! Pudera eu penetrar nela, mas por mais que caminhe o labirinto é insondável!

Ah! Se eu observasse bem os pequenos e dissimulados cantos!

Caramba! Tanta complicação para dizer que caminho sempre com o paraíso no alto da tola! Não acredito em nada! Não sei do que falo. Olho para a igreja em frente e vejo-a a fornicar apressadamente com centenas de crédulos. Que os fornique bem, pelo menos!

Montes de bosta!

E nós sonhamos com a delicada flor de laranjeira, ò Abdel Sarahafat el Kabir desilude-te das pessoas! É carne para canhão! A multidão anónima... não vale a pena! É o que eu acho, eu que em tempos por eles combati. Combati para que milhões de pessoas vivessem melhor e hoje em dia sou soberbamente elitista.

E nós sonhamos com a flor de laranjeira
com o vinho rodando em festa
com mulheres de Ceuta
sem véus, com anacoretas
bêbados e dançantes.

Ó Abdel, quando os camelos fazem amor dá-lhes pontapés e diz-lhes:
“saiam daí seus porcos infectos!”

Tu queres correr o mundo? Fica antes em casa. Lê muito, pinta, desenha e escreve. Toca no alaúde as pavanas do Carlos Gardel. Os copêndios de Aristóteles, Platão, Pascal e outros senhores doutos que como nós andam à deriva entre o concreto e o irreal.

Anacoreta louco e sulfuroso
foi à panónia provar ratos
beber sangue escanruchoso
de sultões heptomensodríacos
gente doida e sem cura.

Pois o mundo roda,
com a sua infinita paciência,
entre o grande e o pequeno
o cimo e o baixo?

Têm medo das mulheres
e só bebem sumo de abacate.
Sobem para cimo dos terraços
para vêrem a aviação passar.


Jean Sawarick




Diário de Abdel Sarahafat el Kabir


Quando olho para a pin-up da tasca ao lado como-a com os olhos e o meu sexo agita-se como o demo. Neste momento estou a devorar uma folha de papel. Como eu gosto daquele calendário!...

Mas ontem roubei uma motorizada forte, feia e má, da crueldade inerente aos objectos feios e maus, banidos pelos ecologistas, comedores de ratos e de bosta que inecessantemente resvalam na carapaça de titânio do progresso do mundo ocidental, dos saudáveis e radioactivos comedores de hormonas.

Hoje passo a noite no campo.
Sinto-me um pouco frustrado, a minha aventura não teve ainda nada de ídilico, mas as àrvores dão-me a sensação bizarra de um outro mundo mais misterioso que eu talvez já tenha sonhado.

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