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Quando digo Eu não me refiro apenas a mim,
mas a todo aquele que couber dentro do jeito
em que está empregado o verbo na primeira pessoa.
Almada
Não é estranho que não possamos compreender a unidade
escondida da bondade e da crueldade?
Morin
Já o estatuto conceptual de todo o indivíduo físico é ambiguo, incerto.
o individuo vivo comporta uma incerteza própria.
é simultaneamente produto e produtor, gerado e gerador
da auto-geno-feno-eco-re-organização.
Aparece-nos simultaneamente como emergência e principio paradigma.
É uno, singular, único e ao mesmo tempo sincrético (sugcrasis: mistura),
cambiado/cambiante entre genos e fenon, autos e oikos.
É simultaneamente subjugado e autónomo, subjugado nesta e por esta
autonomia (onde se exerce o determinismo genético e o determinismo ecológico),
autonomo nesta e por esta subjugação.
Morin
O Todo é mais e menos que a soma das partes.
Morin
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Chegamos à grande envolvência, a uma célula habiotacional onde o espaço se curva e descurva sobre si mesmo para repousar nas suas próprias contradicções. «Os mitos, as grandes narrativas, explicam determinados estados humanos, apenas local e limitadamente. Não inventam, porque nãqo inventam o desconhecido: a verdadeira diferença surge sempre de for a das regras do sistema.» (Ernesto de Sousa)
Fabricar a Unidade é inventar o desconhecido. A Unidade enquanto facto não existe. «Nada é inteiro, tudo é Disperso» dizia Pessoa. A Natureza é Diáspora. Descobrir a Unidade é adoptar «um ponto fixo para julgar» (Lautreamon). «Dá-me um ponto fixo e moverei o mundo», dizia Arquimedes. A unidade fica dependente do não-ente, do não-expresso: «a totalidade é a não-verdade» (Adorno).
A Unidade é uma ficção, uma fábula. Tem um poder mágico que é indispensável. É a tendência centripta: Eros. Possuir Eros ou deixar-se possuir por ele, eis a questão! A Unidade é o direito à habitação, à casa, ao templo, ao repouso, à veneração, à contemplação. Unir é inventar o dia-claro. O dia-claro une-se à noite-obscura. Os galos, como no provérbio zen, cantam ao meio-dia.
«O centro e os mandalas dizem respeito a uma fenomenologia do redondo, do ninho… do ventre materno, também da casa, do quadrtado e de todos os elementos construtivos que fabricam espaços protegidos. Mas tudo entra em contradicção não evidente, por uma clivagem de método, não só com a realidade (que não tem centro, morte de Deus, decadência da familia burguesa) como com o seu entendimento» . (Ernesto de Sousa)
A Unidade é algo técnico: permite que nela se alicercem as técnicas do extase, quando o extase é precisamente o que sobra à Unidade.
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«O uno, a sabedoria, quer e não quer ser invocado pelo nome de Zeus» (Heráclito), no entanto «A lei continua a ser a de obedecer aos projectos do uno.» (idem). Ou de desobedecer fingindo obedecer.
Unir para transformar. Transformar para unir. «Movendo-se descansa (o fogo etéreo do corpo humano)» ( Heráclito). Transformar a representação. Representar a transformação. Representar o repouso. Repousar representando. Ser o actor da transformação. Orfeu. O ACTOR QUE ACENDE A BÔCA! (Herberto Helder)
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